terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Parte 4

A mala já estava pronta, não precisei pegar nada, somente colocar a sacola preta com a caixa dentro, onde se encontrava o dinheiro e as jóias. Posteriormente fiquei sabendo estarem avaliadas em torno de duzentos mil dólares.

Enfim, o pouso no aeroporto de Manaus, após quase 4 horas de vôo. Até então tudo corria normalmente, mas ainda faltava retirar a bagagem na esteira, com a tensão de não encontrar a mesma.

Um atraso de aproximadamente quarenta minutos me deixou mais nervoso. Policiais federais vieram em direção à esteira onde eu esperava. Uma das malas estava retida e queriam saber quem era o dono dela. Cerca de 20 quilos de cocaína foram encontrados. Após alguns transtornos finalmente consegui sair e chegar ao hotel. Conferi o conteúdo que tinha levado e estava tudo intacto.

Até minhas saídas ele tinha programado. Jantaria no restaurante do hotel, tão cinco estrelas quanto o mesmo, e após, sairia para uma boate que era a mais movimentada da cidade naquele momento.

Mas não era somente diversão pura. A saída fazia parte do plano, e em caso de qualquer imprevisto futuro, serviria de álibi, mais um dentre tantos outros que tinham sido construídos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Parte 3

A história ainda não tinha acabado, quando mencionou que não poderia pisar na Amazônia, pois poderia sofrer represálias por parte do grupo e até mesmo ser envolvido criminalmente nas armações.

Garantiu-me que não tinha envolvimento com o tráfico, que somente consumiu as drogas enquanto teve contato com o grupo, mas que após, não teria voltado a usá-las.

Ele sorriu e disse que eu poderia ficar tranqüilo, que jamais colocaria minha vida em risco. Tudo era muito bem planejado.

Foi quando então começou a me mostrar como eu entraria no contexto, e como poderia de fato ajudá-lo a sair daquela situação.

Eu deveria ir até Manaus e entregar o conteúdo da maleta para uma pessoa determinada, previamente avisada, e que eu seria envolvido o mínimo possível em toda a transação.

Eu quis saber o porquê da minha escolha. Ele disse que eu tinha uma cara de bom moço, e que ninguém desconfiaria de um turista inocente passando um final de semana na Amazônia.

Segundo o plano elaborado por ele eu iria embarcar em uma companhia aérea regular, na sexta-feira à noite, e permaneceria em Manaus até o domingo à tarde.

A mala que até então não tinha sido mencionada foi aberta. Estava cheia de roupas, um boné, óculos escuros, e uma sacola preta, sem marca alguma, aparentemente com uma caixa dentro.

Álvaro disse-me que aquelas seriam as roupas que eu usaria durante o final de semana, para que eu não me expusesse, assim com o boné, os óculos e todos os demais acessórios, que colaborariam para a minha segurança, já que em momento algum vestiria qualquer objeto pessoal.

A hospedagem era em um hotel luxuoso de um bairro nobre da cidade que ele já havia reservado em meu nome. Faria passeios típicos do local, comeria em restaurantes de nativos e todo um circuito normal de turistas. A diferença viria no momento de me despedir da capital amazonense, quando então entregaria a sacola preta com a caixa dentro.

Dentro da maleta com o dinheiro e as jóias havia um envelope amarelo, que apresentava certo volume. Álvaro me entregou e disse que era para as despesas com a viagem, o hotel e tudo que ele havia programado para meu final de semana. O que sobrasse era minha recompensa.

Abri o envelope e eram quatro pacotes de notas. Vinte mil reais.

Além do dinheiro o mais envolvente foi a possibilidade de viver uma aventura, sair da rotina, conhecer um novo lugar. Tudo era muito tentador. Eu aceitei.

No dia seguinte fui ao aeroporto e comprei as passagens como combinado. Mas a semana parecia não passar. Era terça-feira e a missão começaria na sexta.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Parte 2

Ao abrir a maleta, mais um susto. Eram muitas as notas de cem dólares, e pelo que pude perceber até jóias haviam se misturado naquele dinheiro todo.

- Eu preciso que você leve parte do conteúdo dessa maleta para Manaus, no próximo final de semana, disse Álvaro.

Eu não tive outra reação a não ser outro sorriso, que imagino ter sido ainda mais amarelo que o primeiro.

Ele começou a me contar a história.
- Fiz muitas dívidas de jogo, que acabaram me levando a dívidas com drogas, prostituição e várias outras coisas. Esse pessoal do Amazonas, que de certa forma me bancou na época, agora quer receber de qualquer forma essa grana.

Pediu para que eu colocasse mais um pouco do vinho que vínhamos bebendo desde o começo da conversa, e também um copo com água.

E continuou.
- Vendi tudo que tinha. Não sobrou casa, carro, até parte da fazenda tive de vender, sem contar essas jóias que você pode ver aqui, que são relíquias da família e eu tive de usar antes do momento esperado.

Contou ainda que não imaginava que teria de pagar tudo isso de uma só vez, que poderia continuar da forma como vinha fazendo, com suas rendas mensais. Mas como o grupo manauara passava por dificuldades financeiras, envolvimento com garimpeiros, traficantes de drogas vindas da Colômbia, e passagens pela polícia, a cobrança foi inevitável.

Até então não tinha me dito qual meu papel dentro daquele esquema todo. Quando então cheguei a pensar que ainda faltava algum dinheiro e era para eu completar com algum montante. Mas e a mala grande? Até agora não entendia o motivo de sua presença.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amazônia de Riscos - Parte 1

O dia 25 de setembro de 2006 amanhecia como outro qualquer. Preparava-me para o trabalho quando recebo o telefonema de um amigo. Queria me fazer uma visita à noite, com a qual eu concordei, e até agradeci, pois havia meses que não nos encontrávamos.

Por volta das 19 horas, com cerca de uma hora de atraso, chega Álvaro com uma mala, e uma maleta de mão.

No início fiquei surpreso, até pensei que ele poderia estar com algum problema, e que somente queria abrigo por alguns dias, mas não passou nem perto do real motivo a minha imaginação.

Conversamos um pouco sobre o tempo que ficamos sem nos falar, como andava sua vida, a minha, coisas que ainda tínhamos em comum. Outras que já não eram mais nossas atividades favoritas. Analisamos se ainda seriamos amigos como fomos um dia, com a vida que cada um levava atualmente, e ficamos nesse papo muito agradável por horas, que nem sentimos passar.

Quando ele viu minha cara de surpresa ao ver as malas, já me disse de pronto, que eu poderia ficar tranqüilo, que não era um hóspede que estava chegando, e que na hora oportuna me explicaria tudo.

Os assuntos do passado e presente foram se acabando, e não tinha mais como fugir do óbvio, o porquê daquela visita inesperada.

Álvaro disse que estava correndo risco de morte, e a única pessoa que sempre confiou seus maiores segredos foi a mim e que não poderia recorrer a mais ninguém nessa hora tão difícil.

Mesmo ele tendo falado em um tom muito sério, não pude resistir, e acabei dizendo que ele realmente veio pedir abrigo, e não teve coragem no começo. Ele me respondeu com um sorriso amarelado, que realmente não era aquilo que ele queria de mim.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Teatro das Almas



Teatro das almas


Porque olhar para a vida
Se o que vemos dela é a ferida
Deixada sem nenhum rancor

Em cada passo que damos
Olhando para trás só vemos os danos
Que no abrir dos panos
O teatro encenou

Era a morte e a vida
Correndo na veia a ferida
Do sangue marcado de horror

Pelas ruas ficava o rastro
Do cheiro do corpo errado

A vida cheirava à morte
A morte exalava o odor
Que os vivos temiam
E o pano se fechou

sábado, 13 de dezembro de 2008

Samba do Dia Nublado


Vamos sair. Beber até cair

Sambar para não deixar o dia acabar

Abraçar para celebrar, não para se despedir

Beijar e sorrir, para tudo iluminar


Viver os segundos de vida

Deixar o relógio pra lá

Cada um faz aquilo que a sina

Um dia cuidou de secar


Então vá, sem deixar nada pra trás

Que um dia um outro virá

Para que qualquer samba voraz

Não destrua o coração do rapaz





"Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões de abraços: apertado assim, colado assim, calado assim; abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, que é para acabar com esse negócio de você viver sem mim, nao quero mais esse negócio de você longe de mim. Chega de saudade, a realidade é que sem ela não há paz, não há beleza é só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai..."
(Chega de Saudade - Vinícius de Morais e Tom Jobim)

O começo. Partindo do fim.


Assusto-me.
Seria a perda total.
O que seria de mim sem essas lembranças?
O que seria de mim com um capítulo todo arrancado?
Já estava disposto a não mais voltar aqui.
Não mais escrever.
Não mais me manifestar.
O susto passa.
Dou-me conta que foi apenas o susto.
Nada havia se perdido.
Apenas começado um novo mês.
Por sinal o último deste fatídico ano.
Sobrevivi a mais esse susto.
Sobrevivi a mais um ano.
Mais um quase já se foi.
Lembranças?
Boas.
Ruins.
Não só lembranças, marcas eternas.
Marcas de paixão.
Cicatrizes de sofrimento.
Lacunas eternas na vida.
Esperanças ainda maiores.






"Quando eu for um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso"

(O Mapa - Mário Quintana)