segunda-feira, 18 de maio de 2009

Faça sua parte para promover a paz. Aceite


A paz deveria ser a regra geral das relações humanas, dos convívios sociais e da lida com as diferenças culturais. Mas, atualmente, está relegada à marginal condição de esperança para o futuro. A relativização cultural não se faz presente em nossa formação, e acabamos aprisionados na barreira do estranhamento.


Relativizar é aceitar, fazer com que a realidade do outro se aproxime da nossa. É princípio de evolução do nosso etnocentrismo arraigado, que não nos deixa vivenciar novas culturas, tentarmos ver que existe conhecimento a ser adquirido, e que tal forma de agregar é tão interessante quanto a que antes acreditávamos não ser.


E é a partir do momento em que observamos uma cultura diferente e não conseguimos suplantar a estranheza gerada pelo novo e desconhecido, que iniciamos um conflito interno. Quando exteriorizado, este conflito causa desde brigas familiares até guerras mundiais. Não aceitando o que nos é alheio, não somos capazes de reconhecer nossas semelhanças, mas somente o que destoa.


Os grandes conflitos da história da humanidade foram gerados pela falta de alteridade, de conseguir aceitar a diversidade cultural, de desenvolver a capacidade de se ver no outro sem que se criem pré-conceitos de outras culturas.


Atendo-nos a um conflito específico – guerra entre Israelenses e Palestinos –, observamos que o estopim de todo o conflito é a diferença religiosa, um dos traços mais marcantes da cultura de um povo. Cada um tem suas convicções e não abre mão delas. Enquanto os Israelenses acreditam serem possuidores da terra por uma promessa divina, os Palestinos entendem que a propriedade é deles por direitos adquiridos ao longo de muitos anos naquele território.


Se pensarmos que os dois povos desejam os mesmos bens, tem pontos culturais e ideológicos em comum, a paz seria o princípio que comungaria os anseios e esperanças das duas nações. Não é isso que vemos. Falta a capacidade de aceitar o outro e somar culturas ao invés de perder vidas e grandes preciosidades materiais em conflitos aparentemente sem fim.


Assim, vemos que, tanto no estudo de culturas de sociedades diferentes, quanto das formas culturais no interior de uma sociedade ou território, mesmo dividido – Israel e Palestina –, mostra-se que a diversidade existe, e devemos entender as realidades culturais no contexto da história de cada povo e das relações sociais entre elas.


Não mais distante de nossa realidade, podemos citar como exemplo de conflito entre diferentes culturas, a chegada dos povos portugueses ao nosso território, com novas formas de vida, de pensamento e religião.


Mais uma vez o estranhamento inicial existe, é aceitável e inteligível diante do grande choque. Contudo, se o muro da desigualdade não é transposto, surge novo combate destruindo a paz entre os povos, desestabilizando um contexto de diversidade que poderia caminhar para a irmandade.


Diante dos duelos que observamos serem travados, pensamos que o território é o alvo principal, o que não é de todo verdadeiro. Até mesmo o apelo emocional é alvo de disputas e discriminação.


Quando os veículos da grande mídia noticiam um acontecimento de grande impacto nacional, com mobilização de várias frentes, como na defesa de menores vítimas de maus tratos, por exemplo, a rejeição e pré-julgamento sobre os agentes do fato são imediatas. Transcorridos os passos legais e processuais, concluindo-se que não houve o crime ou que não foram eles os reais autores, busca-se uma retratação pública, para tentar de qualquer forma reaver a dignidade do ser humano que foi execrado publicamente.


Como em nossa cultura o perdão fica em segundo plano, preferimos deixar pessoas marginalizadas a reintegrá-las. É mais comum continuarmos guerreando contra elas do que buscar uma forma pacífica de solucionar o problema.


Aceitando o que é oposto, avesso e até aparentemente imoral, partindo do princípio que todos têm um lado que pode nos ensinar algo, iniciaremos um novo período, voltado para a congregação de valores e culturas. Não há nada de negativo em agregar. Somar é aceitar que, o que não nos é natural, também pode ser positivo e enriquecedor.

(Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã no dia 15 de abril de 2009)

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